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quinta-feira, 10 de março de 2011

COMO OS PAIS PODEM LIDAR EM DESCOBRIR QUE TEM UM FILHO SURDO

3.1. A Descoberta da Surdez e o Início da Reabilitação

3.1.1. Fases por que passa a família
    É necessário, que os pais saibam como lidar com essas alterações e partilhem suas inquietações com outras pessoas que também passam pelas mesmas fases:
  •  o choque;
  •  a reação;
  •  a adaptação, e
  •  a orientação.
    A fase do choque pode ser caracterizada por uma paralisia de ação, pela confusão e por sentimentos fortes e opostos, quando os pais são informados de que o filho é surdo.

    A fase da reação caracteriza-se pelo aparecimento de diferentes mecanismos de defesa psíquica. Os pais ficam arrasados, decepcionados, frustrados, revoltados; ficam ansiosos, angustiados, têm sensações de impotência, de incapacidade, insegurança, e culpa, porque se sentem, em parte, responsáveis pela deficiência.

     Reconfortados pela ação de elementos externos (outros pais, médicos, professores, fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais), os pais saem do sofrimento agudo e encaram o problema de maneira mais realista. Entram, então, na fase da adaptação. Nessa fase, são capazes de utilizar suas forças a favor do filho. É o momento de receber informações mais detalhadas sobre a deficiência e de como lidar com a criança.
       Com o tempo, a crise passa e os pais podem pensar no futuro. Começa a fase da orientação. Com a experiência pessoal, os pais assimilaram conhecimentos que podem utilizar de modo  mais construtivo para fazer face às novas funções.
    Os pais devem saber quais os passos a seguir e procurar os serviços oferecidos pela comunidade, os direitos dos portadores de deficiência, além de seus próprios direitos.
Características de cada fase
    Na fase do choque ou do impacto da descoberta da surdez, a família desenvolve uma série de sentimentos:
 

  • a ansiedade;

  • a raiva e /ou a negação;

  • a culpa;

  • a depressão;

  • o preconceito;

  • a rejeição/superproteção
        Basicamente, existem duas espécies de sentimentos: os positivos e os negativos. Os sentimentos negativos interferem no prazer, consomem energia e nos deixam exauridos com a sensação de vazio e solidão. Os sentimentos positivos ampliam o senso de força e bem estar, produzindo prazer, sensação de plenitude e esperança.
        O que se deseja é desfazer alguns dos mistérios dos sentimentos (em relação à surdez para que se torne possível às pessoas reconhecer e compreender o que sentem, de forma que os sentimentos possam ser seus aliados, em vez de seus inimigos.
    Ansiedade é um estado emocional, fruto de uma expectativa ou de um medo perante uma realidade desconhecida e ameaçadora que está por vir.
    Ansiedade, “mal estar ao mesmo tempo psíquico e físico, caracterizado por temor difuso, sentimento de insegurança por desgraça iminente. De preferência, reserva-se o nome de ‘angústia’ para as sensações físicas que acompanham a ansiedade (constrição toráxica, distúrbios vasomotores, etc). Na prática, os dois são sinônimos. (Henri Pieron/ Dicionário de Psicologia Editora Globo).
    Quando uma pessoa tem uma experiência negativa ou sofre uma perda, sente dor. A dor cria um desequilíbrio e produz uma primeira reação, normalmente, de negar a realidade. Quando essa realidade se impõe, a reação pode ser dirigida para fora, contra a fonte da dor. A expressão dessa energia chama-se raiva.
    Se essa energia não puder ser manifestada contra a fonte da dor, mas, pelo contrário, for dirigida para dentro, contra a própria pessoa, ela se torna sentimento de culpaSe essa culpa não for aliviada pela aceitação da raiva inicial como uma reação ao mal inicial, ela se volta contra a pessoa que a sente e se torna depressão, que pode consumir sua energia até destruir a pessoa.
    A sociedade costuma ter preconceito contra tudo que não conhece e  tudo que difere dos padrões considerados normais. Por isso, pela falta de conhecimento específico da pessoa surda e das suas capacidades, a atitude da sociedade, como também, às vezes, dos próprios pais, é de discriminação e pode manifestar-se concretamente, tanto na rejeição, quanto na superproteção.
        A formação de guetos, embora compreensível, não é desejável, já que o isolamento não contribui para superar a discriminação. Quanto maior o contato com os diferentes ambientes sociais, mais esclarecimentos esse contato trará à sociedade, levando-a a refletir sobre o que é ser diferente.
    A rejeição faz com que as pessoas não se dirijam ao surdo, fujam dele, prefiram não entrar em contato com ele.
        A superproteção, igualmente perniciosa, faz com que as pessoas realizem tarefas que seriam de competência do surdo; façam o que ele poderia estar fazendo, demonstrando, assim, não acreditar nas capacidades dele.
        O objetivo do esclarecimento a respeito da surdez e da quebra dos preconceitos relativos ao deficiente auditivo é viabilizar a sua integração social.
        A intenção dos profissionais que atuam com  pais de surdos é a de desfazer os sentimentos negativos, ajudando-os a transformá-los em sentimentos positivos.
        A descoberta da surdez pode acontecer de formas diferentes:
        1. os pais ficam sabendo da deficiência da criança após apresentar ao médico suas dúvidas relativas à falta de reação a estímulos sonoros e  vê-las confirmadas pelos exames audiológicos;
        2. os pais procuram diagnóstico médico, porque outras pessoas de seu convívio lhes chamam atenção para algumas características atípicas da criança.
        A reação dos pais não é igual. Diferem em função de vários fatores, tais como: o que a criança significa para eles, suas esperanças, ambições, maturidade pessoal,  relações que o casal mantém entre si, ausência de um dos pais, condições econômicas nas quais vivem, seu desenvolvimento intelectual, as experiências com irmãos mais velhos, etc.
        Somente com a compreensão dos sentimentos despertados pela surdez adquirem-se atitudes positivas no sentido de responder adequadamente às reais necessidades dos surdos, tornando-os merecedores do direito de serem participantes ativos da família, bem como do direito de usufruirem plenamente de sua cidadania.
         O fato de ter gerado uma criança surda, ou de confrontar-se com a experiência traumática de ver uma criança ouvinte tornar-se surda, leva a família a encarar isso como um castigo não merecido.

        O medo e a vergonha frente aos preconceitos e perguntas mais comuns deixam os pais numa situação angustiante por não saberem como responder.

     Preocupações e conflitos.
        Os sentimentos negativos levam os pais a preocupações demasiadas, à não aceitação do problema e a conflitos desnecessários .
     A busca do “milagre”.
        Essa etapa inclui o recurso a crendices, medicações falsas e à busca de curandeiros. Os extremos a que chegam, sem resultado, levam os pais à etapa seguinte.
     A dificuldade com os profissionais.
        Cheios de dúvidas e suspeitas, os pais não conseguem acreditar totalmente nos profissionais procurados nem em suas orientações, o que faz aumentarem  suas dúvidas e inseguranças.
        No entanto, somente com a assistência de profissionais competentes das áreas da saúde (pediatra, otorrino, fonoaudiólogo, psicólogo), da assistência social e da educação, os pais podem encontrar formas de atender melhor as necessidades de seus filhos.
    3.1.2. Orientações Educacionais
        Ao tomar conhecimento da deficiência do filho, a família se desorganiza emocionalmente. A decepção, o sentimento de culpa e o desespero impossibilitam a aceitação da deficiência como um fato. É o momento de ter o apoio de um psicólogo e de um serviço de assistência social.
        A falta de conhecimento a respeito da extensão do problema gera estresse e ansiedade, deixando os pais inseguros, diante de um futuro imprevisível.
        Os pais necessitam aprender a replanejar sua vida, a traçar objetivos e buscar meios de alcançá-los.
        Mesmo os pais que reagem bem ao diagnóstico podem passar por momentos de desânimo, tristeza e dificuldades.
        Dificilmente os pais chegarão a tomar uma atitude de aceitação e busca dos meios de enfrentar o problema, sem a ajuda desses profissionais.
        É recomendável que todos os pais, nestas etapas recebam apoio psicológico e orientação. Eles precisam de compreensão no que se refere a sentimentos de culpa, incerteza e medo, precisam ter alguma idéia do que o futuro reserva para eles e os filhos e, muito encorajamento, no sentido de aceitarem o desafio que têm pela frente.
        Com freqüência, no lugar da compreensão, exige-se que esses pais sejam verdadeiras fortalezas humanas. Espera-se que, com pouca ou nenhuma orientação, compreendam problemas médicos ligados à deficiência auditiva, enfrentem sentimentos confusos em relação a si mesmos e ao filho e que em pouco tempo assumam as novas responsabilidades que a deficiência auditiva exigirá deles na vida diária.
        O serviço psicossocial pode orientar a família a partir da descoberta da surdez, momento crítico e grave, que pode desestruturar o que se considerava sólido.
        Ao certificarem-se da surdez real de um filho,  uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos pais talvez seja a perspectiva da necessidade de ter de  aceitar a nova realidade  (para a qual não estavam preparados) e o fato de que o filho não escuta as palavras a ele dirigidas.
        Aceitar não quer, necessariamente, dizer deixar de sofrer. Aceitar é buscar a força interior que os impulsionará na luta pela conquista da integração do seu filho ao meio.
        Os pais necessitam de motivação que os faça ver o futuro com a ótica da esperança e da convicção de que agora mais do que nunca, eles, pais, têm um papel primordial e histórico no desenvolvimento do filho.
        Para isso necessitam de orientação. Esse novo caminho poderá lhes trazer gratificações pelo sucesso que se alcança, quando são valorizadas “pequenas situações” que levam a grandes oportunidades de realizações no campo emocional, cultural, profissional e de integração social.
        Nessa orientação trabalha-se o desempenho das funções de pais-educadores na formação dos filhos, numa maturidade maior. Os pais se descobrem capazes de despertar a disponibilidade para o aprendizado.
        Busca-se envolver, de forma criativa, os pais que se acomodam e se acobertam pela autopiedade, procurando motivá-los para a missão especial que terão de de-sempenhar na família.
        Nessa fase os pais necessitam de um acompanhamento, por meio de assessoramento individual, nas dificuldades do dia-a-dia. Cursos para Pais, Grupos de Estudos e Reflexão Programada são utilizados para manter  o otimismo e despertar criatividade para a autonomia no desempenho de suas funções.
        Observa-se que algumas vezes os pais permanecem em “sofrimento”, mesmo quando têm condições financeiras, intelectuais, sociais, até que sejam despertados para a ação especial.
        Outros  despertam com uma sagacidade que os leva a retomar a escolaridade, sendo que muitos deles se destacam, pela liderança, na criação de Associação de Pais e, em conseqüência, criam, pela conscientização social, condições propícias para o filho e demais surdos de sua comunidade. As reações familiares deslocam-se do âmbito do fenômeno individual, para encontrar parcerias nas ações coletivas.
        Verifica-se que os pais, que recebem orientação e alcançam adequados conhecimento e compreensão de si mesmos e de seu(s) filho(s) deficiente(s) auditivo(s), são capazes de enfrentar e encontrar soluções para os desafios da vida.
        Os membros da família, quando conscientes das questões relacionadas à deficiência auditiva, aprendem a lidar com as dificuldades dela decorrentes, buscando formas alternativas de ajustamento.
        Apoiar os pais psicologicamente e orientá-los é imprescindível, considerando-se que o êxito no processo de desenvolvimento das capacidades da criança deficiente auditiva, principalmente nos primeiros anos de vida, depende da sua participação real e ativa.


        A falta generalizada de informação deixa os pais desorientados, quanto a possíveis iniciativas práticas. Uma orientação adequada facilitará a tomada de atitudes pertinentes.
        Os pais procuram atribuí-la a alguém ou a alguma coisa. Quando uma causa específica é estabelecida, o sentimento de culpa começa a diminuir.

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