3.1.1. Fases por que passa a família
É necessário, que os pais saibam como lidar com essas alterações e partilhem suas inquietações com outras pessoas que também passam pelas mesmas fases:
- o choque;
- a reação;
- a adaptação, e
- a orientação.
A fase da reação caracteriza-se pelo aparecimento de diferentes mecanismos de defesa psíquica. Os pais ficam arrasados, decepcionados, frustrados, revoltados; ficam ansiosos, angustiados, têm sensações de impotência, de incapacidade, insegurança, e culpa, porque se sentem, em parte, responsáveis pela deficiência.
Reconfortados pela ação de elementos externos (outros pais, médicos, professores, fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais), os pais saem do sofrimento agudo e encaram o problema de maneira mais realista. Entram, então, na fase da adaptação. Nessa fase, são capazes de utilizar suas forças a favor do filho. É o momento de receber informações mais detalhadas sobre a deficiência e de como lidar com a criança.
Os pais devem saber quais os passos a seguir e procurar os serviços oferecidos pela comunidade, os direitos dos portadores de deficiência, além de seus próprios direitos.
Na fase do choque ou do impacto da descoberta da surdez, a família desenvolve uma série de sentimentos:
Basicamente, existem duas espécies de sentimentos: os positivos e os negativos. Os sentimentos negativos interferem no prazer, consomem energia e nos deixam exauridos com a sensação de vazio e solidão. Os sentimentos positivos ampliam o senso de força e bem estar, produzindo prazer, sensação de plenitude e esperança.
O que se deseja é desfazer alguns dos mistérios dos sentimentos (em relação à surdez para que se torne possível às pessoas reconhecer e compreender o que sentem, de forma que os sentimentos possam ser seus aliados, em vez de seus inimigos.
Ansiedade é um estado emocional, fruto de uma expectativa ou de um medo perante uma realidade desconhecida e ameaçadora que está por vir.
Ansiedade, “mal estar ao mesmo tempo psíquico e físico, caracterizado por temor difuso, sentimento de insegurança por desgraça iminente. De preferência, reserva-se o nome de ‘angústia’ para as sensações físicas que acompanham a ansiedade (constrição toráxica, distúrbios vasomotores, etc). Na prática, os dois são sinônimos. (Henri Pieron/ Dicionário de Psicologia Editora Globo).
Quando uma pessoa tem uma experiência negativa ou sofre uma perda, sente dor. A dor cria um desequilíbrio e produz uma primeira reação, normalmente, de negar a realidade. Quando essa realidade se impõe, a reação pode ser dirigida para fora, contra a fonte da dor. A expressão dessa energia chama-se raiva.
Se essa energia não puder ser manifestada contra a fonte da dor, mas, pelo contrário, for dirigida para dentro, contra a própria pessoa, ela se torna sentimento de culpa. Se essa culpa não for aliviada pela aceitação da raiva inicial como uma reação ao mal inicial, ela se volta contra a pessoa que a sente e se torna depressão, que pode consumir sua energia até destruir a pessoa.
A sociedade costuma ter preconceito contra tudo que não conhece e tudo que difere dos padrões considerados normais. Por isso, pela falta de conhecimento específico da pessoa surda e das suas capacidades, a atitude da sociedade, como também, às vezes, dos próprios pais, é de discriminação e pode manifestar-se concretamente, tanto na rejeição, quanto na superproteção.
A formação de guetos, embora compreensível, não é desejável, já que o isolamento não contribui para superar a discriminação. Quanto maior o contato com os diferentes ambientes sociais, mais esclarecimentos esse contato trará à sociedade, levando-a a refletir sobre o que é ser diferente.
A rejeição faz com que as pessoas não se dirijam ao surdo, fujam dele, prefiram não entrar em contato com ele.
A superproteção, igualmente perniciosa, faz com que as pessoas realizem tarefas que seriam de competência do surdo; façam o que ele poderia estar fazendo, demonstrando, assim, não acreditar nas capacidades dele.
O objetivo do esclarecimento a respeito da surdez e da quebra dos preconceitos relativos ao deficiente auditivo é viabilizar a sua integração social.
A intenção dos profissionais que atuam com pais de surdos é a de desfazer os sentimentos negativos, ajudando-os a transformá-los em sentimentos positivos.
A descoberta da surdez pode acontecer de formas diferentes:
1. os pais ficam sabendo da deficiência da criança após apresentar ao médico suas dúvidas relativas à falta de reação a estímulos sonoros e vê-las confirmadas pelos exames audiológicos;
2. os pais procuram diagnóstico médico, porque outras pessoas de seu convívio lhes chamam atenção para algumas características atípicas da criança.
A reação dos pais não é igual. Diferem em função de vários fatores, tais como: o que a criança significa para eles, suas esperanças, ambições, maturidade pessoal, relações que o casal mantém entre si, ausência de um dos pais, condições econômicas nas quais vivem, seu desenvolvimento intelectual, as experiências com irmãos mais velhos, etc.
Somente com a compreensão dos sentimentos despertados pela surdez adquirem-se atitudes positivas no sentido de responder adequadamente às reais necessidades dos surdos, tornando-os merecedores do direito de serem participantes ativos da família, bem como do direito de usufruirem plenamente de sua cidadania.
Preocupações e conflitos.
Os sentimentos negativos levam os pais a preocupações demasiadas, à não aceitação do problema e a conflitos desnecessários .
A busca do “milagre”.
Essa etapa inclui o recurso a crendices, medicações falsas e à busca de curandeiros. Os extremos a que chegam, sem resultado, levam os pais à etapa seguinte.
A dificuldade com os profissionais.
Cheios de dúvidas e suspeitas, os pais não conseguem acreditar totalmente nos profissionais procurados nem em suas orientações, o que faz aumentarem suas dúvidas e inseguranças.
No entanto, somente com a assistência de profissionais competentes das áreas da saúde (pediatra, otorrino, fonoaudiólogo, psicólogo), da assistência social e da educação, os pais podem encontrar formas de atender melhor as necessidades de seus filhos.
3.1.2. Orientações Educacionais
Ao tomar conhecimento da deficiência do filho, a família se desorganiza emocionalmente. A decepção, o sentimento de culpa e o desespero impossibilitam a aceitação da deficiência como um fato. É o momento de ter o apoio de um psicólogo e de um serviço de assistência social.
A falta de conhecimento a respeito da extensão do problema gera estresse e ansiedade, deixando os pais inseguros, diante de um futuro imprevisível.
Os pais necessitam aprender a replanejar sua vida, a traçar objetivos e buscar meios de alcançá-los.
Mesmo os pais que reagem bem ao diagnóstico podem passar por momentos de desânimo, tristeza e dificuldades.
Dificilmente os pais chegarão a tomar uma atitude de aceitação e busca dos meios de enfrentar o problema, sem a ajuda desses profissionais.
É recomendável que todos os pais, nestas etapas recebam apoio psicológico e orientação. Eles precisam de compreensão no que se refere a sentimentos de culpa, incerteza e medo, precisam ter alguma idéia do que o futuro reserva para eles e os filhos e, muito encorajamento, no sentido de aceitarem o desafio que têm pela frente.
Com freqüência, no lugar da compreensão, exige-se que esses pais sejam verdadeiras fortalezas humanas. Espera-se que, com pouca ou nenhuma orientação, compreendam problemas médicos ligados à deficiência auditiva, enfrentem sentimentos confusos em relação a si mesmos e ao filho e que em pouco tempo assumam as novas responsabilidades que a deficiência auditiva exigirá deles na vida diária.
O serviço psicossocial pode orientar a família a partir da descoberta da surdez, momento crítico e grave, que pode desestruturar o que se considerava sólido.
Ao certificarem-se da surdez real de um filho, uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos pais talvez seja a perspectiva da necessidade de ter de aceitar a nova realidade (para a qual não estavam preparados) e o fato de que o filho não escuta as palavras a ele dirigidas.
Aceitar não quer, necessariamente, dizer deixar de sofrer. Aceitar é buscar a força interior que os impulsionará na luta pela conquista da integração do seu filho ao meio.
Os pais necessitam de motivação que os faça ver o futuro com a ótica da esperança e da convicção de que agora mais do que nunca, eles, pais, têm um papel primordial e histórico no desenvolvimento do filho.
Para isso necessitam de orientação. Esse novo caminho poderá lhes trazer gratificações pelo sucesso que se alcança, quando são valorizadas “pequenas situações” que levam a grandes oportunidades de realizações no campo emocional, cultural, profissional e de integração social.
Nessa orientação trabalha-se o desempenho das funções de pais-educadores na formação dos filhos, numa maturidade maior. Os pais se descobrem capazes de despertar a disponibilidade para o aprendizado.
Busca-se envolver, de forma criativa, os pais que se acomodam e se acobertam pela autopiedade, procurando motivá-los para a missão especial que terão de de-sempenhar na família.
Nessa fase os pais necessitam de um acompanhamento, por meio de assessoramento individual, nas dificuldades do dia-a-dia. Cursos para Pais, Grupos de Estudos e Reflexão Programada são utilizados para manter o otimismo e despertar criatividade para a autonomia no desempenho de suas funções.
Observa-se que algumas vezes os pais permanecem em “sofrimento”, mesmo quando têm condições financeiras, intelectuais, sociais, até que sejam despertados para a ação especial.
Outros despertam com uma sagacidade que os leva a retomar a escolaridade, sendo que muitos deles se destacam, pela liderança, na criação de Associação de Pais e, em conseqüência, criam, pela conscientização social, condições propícias para o filho e demais surdos de sua comunidade. As reações familiares deslocam-se do âmbito do fenômeno individual, para encontrar parcerias nas ações coletivas.
Verifica-se que os pais, que recebem orientação e alcançam adequados conhecimento e compreensão de si mesmos e de seu(s) filho(s) deficiente(s) auditivo(s), são capazes de enfrentar e encontrar soluções para os desafios da vida.
Os membros da família, quando conscientes das questões relacionadas à deficiência auditiva, aprendem a lidar com as dificuldades dela decorrentes, buscando formas alternativas de ajustamento.
Apoiar os pais psicologicamente e orientá-los é imprescindível, considerando-se que o êxito no processo de desenvolvimento das capacidades da criança deficiente auditiva, principalmente nos primeiros anos de vida, depende da sua participação real e ativa.
 
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